Culto à beleza
Alguns fatos ocorrido atualmente, como o caso de assedio sofrido pela repórter do IG por Mc Biel, Nicole Balhs e Ana Hickmann essa tal moda da barriga negativa, cirurgias plásticas para a perfeição, a questão da celulite, me retomaram algumas reflexões que venho me fazendo a algum tempo sobre esses estereótipos e padrões de beleza. Qual é a semelhança entre eles? A utilização do corpo da mulher como público, mercadoria, objeto sexual , com a sociedade querendo ditar como a mulher deve ser e pior, o que é ser mulher, no conceito vendido pela mídia. No corpo perfeito, no cabelo perfeito, no culto a beleza e ao corpo que por décadas rondam a sociedade.
Bom, não é de hoje, que transformar o corpo é algo comum, não é algo exclusivo da civilização ocidental contemporânea. São vários exemplos dessa transformação tanto ocidental quanto oriental, como cirurgias plásticas para redução abdominal, estética, redução dos pés das chinesas, alongamento de pescoço em algumas tribos , sessões de bronzeamento artificial e etc. Existem varias formas de modificar o corpo em diversas culturas. No entanto, está bem claro que as sociedades contemporâneas sofrem de uma exacerbação da construção do corpo, em contrapartida a uma desvalorização do natural, basta ir da sua casa ao centro da cidade e contar as inúmeras academias de ginásticas, clinicas de estéticas, dar uma olhada nas capas de revistas femininas na banca, que estará o modelo escancarado do que é “ser belo”( o que a mídia tenta transmitir que deveria ser universal). Pode-se dizer através de uma analogia a Karl Marx , que a sociedade contemporânea não livrou- se do fetichismo das mercadorias que Marx analisou ao tratar sobre as relações sociais do capitalismo, pressupondo a valorização das coisas sobre o sujeito, contestando uma inversão nas relações entre os homens.
A escolha entre ser a bonita ou a feia, deprime todas as mulheres, independente de qual seja a sua posição. As belas lutam diariamente para serem ainda mais belas e buscam, sem tirar, uma forma de ser maior e, ao mesmo tempo, mais fina e mais corada, e com os traços mais marcados. Já as feias, satisfeitas nesta condição de não ser o desejo de todos, trabalham para fortalecer o cérebro que lhes resta, em uma vida comum, sem estar nas capas das revistas, sem ser alguém notável. Essa segregação torna mulheres ainda mais alheias aos próprios direitos, dissemina o conceito do gênero desunido e causa situações do tipo: "feminista é feminista porque é feia, nunca vi uma feminista bonita!". Se levarmos ao pé do pé, seria apenas mais um ponto de vista particular. Mas não. Isso é mais uma forma de generalizar e separar as mulheres ideias das comuns. Esse ideologia de que as inconformadas são sempre feias, ignora o fato de que a tristeza e a indiferença, muitas vezes, são os incentivos para que muitas mulheres busquem se tornar o "ideal". Em busca da aceitação dos outros, ninguém pode lembrar de si com plenitude e colocar-se em primeiro lugar. Mas na ironia do mundo ideal, ninguém precisa saber disso.
No Brasil, a estética de beleza já é um padrão nacional, independente de classe, idade e gêneros. A beleza se tornou uma indústria, e a mercadoria estética é vendida para todos aqueles/as que desejam comprar. E assim, enquanto o Brasil vem sendo conhecido internacionalmente pelo culto à beleza, se instaura internamente uma epidemia de insatisfação com tipo físico. De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo sobre imagem e aparência no Brasil, constatou-se que:
86 % das mulheres e 76 % dos homens brasileiros preocupam-se em melhorar sua aparência. Além disso, 62 % das mulheres gostariam de parecer mais jovens, e 56% homens, também. Só 30% das mulheres brasileiras disseram gostar das próprias rugas; entre os homens, 41% têm a mesma opinião.
Assim, não há dúvidas de que a sociedade brasileira está diante de uma cultura que tem o corpo como uma dimensão importante, se não fundamental para a felicidade das pessoas. O Brasil já ocupa o terceiro lugar no consumo de produtos de beleza, se tratando de cirurgias estéticas são realizadas uma média de 350 mil cirurgias por ano, o que quer dizer uma a cada três minutos, sendo a metade delas para fins estéticos.